FRONTEIRAS DO BRASIL

A formação do território do que hoje chamamos Brasil, começa na partilha dos continentes a serem conquistados por portugueses e “espanhóis” , e também a constituição das fronteiras com os outros países da América do Sul, questão esta que somente será encerrada no século XX.

Brasil Colonial (ou América Portuguesa)

Fase das descobertas

Como colônia ultramarina de Portugal até as primeiras décadas do século XIX, o Brasil tem a sua configuração territorial resultante de um processo de ocupação, exploração econômica e diplomacia internacional iniciado com a colonização portuguesa.

Esta fase inicia-se com a partilha luso-espanhola das terras encontradas a partir do final do século XV, cuja mediação seria realizada pela Santa Sé a única e verdadeira autoridade supranacional que era admitida pelos reinos cristãos. Assim, as várias bulas papais vão garantir a Portugal a missão de catequese nas áreas ultramarinas recém-descobertas (como Madeira, Açores, Cabo Verde e São Tomé), o que significava a posse destes territórios. Porém essas bulas, como é o caso da mais conhecida delas, a Inter Coetera (1493), privilegiava os espanhóis no tocante à posse do novo continente (a América), já que a linha demarcadora garantiria a Portugal apenas a posse da África e de algumas ilhas no Atlântico.

Os portugueses sentindo-se prejudicados, tentaram outras negociações, reivindicando um espaço marítimo a Ocidente calando a respeito de reservar para si o caminho marítimo para as Índias . Assim, devido aos protestos lusitanos, foi firmado o Tratado de Tordesilhas, em 1494, que dividiu os domínios do “Novo Mundo” entre Portugal e Espanha por um meridiano imaginário, localizado a 370 léguas a ocidente do Arquipélago de Cabo Verde.

A partir daí, pela impossibilidade de haver uma grande precisão para ser demarcada a linha de Tordesilhas, ambos faziam incursões no território alheio com a justificativa de seus cartógrafos particulares que modificavam voluntária e involuntariamente os meridianos divisórios, ou seja, por erros de cálculo causados pela tecnologia imprecisa da época ou por erros propositais ou de caráter ideológico. A partir deste ponto começamos a notar que a política de expansão territorial da América Portuguesa, hoje o Brasil, começou com a cartografia, que era utilizada também como instrumento ideológico. Desta maneira, ela serviu, e muito, para consolidar possessões, conquistar terras e povos e legitimar o poder arbitrário dos colonos sobre o “Novo Mundo”.

Alguns dos primeiros mapas portugueses do início do século XVI mostram a linha de Tordesilhas colocando dentro dos territórios lusitanos tanto a foz do Amazonas quanto a do Prata, denotando claramente o interesse econômico ou talvez até mesmo estratégico de Portugal sobre estas duas regiões. Segundo a interpretação do historiador e diplomata Jaime Cortesão, a cartografia portuguesa sobre o Brasil refletiu a lenda de uma unidade territorial (ou uma grande ilha), envolvida pelas águas dos dois grandes rios, cujas fontes situariam-se em um lago unificador. Desta forma, a união das duas grandes bacias talvez mostrasse o desejo dos portugueses que o meridiano de Tordesilhas fosse também uma fronteira natural, e mesmo que provado que a linha ficasse mais à leste, não se poderia discutir com o fato “inquestionável” das barreiras naturais.

A lenda da “Ilha Brasil” foi sendo eliminado conforme acontecia a interiorização da colonização e principalmente pelas observações dos padres jesuítas na primeira metade do século XVIII, mas provavelmente foi uma justificativa da qual se serviu Portugal para aumentar seus domínios na América.

Fase da colonização

O Tratado de Tordesilhas é realmente um dos mais importantes (se não o mais relevante) para a configuração do território Brasileiro, e apesar de não ter funcionado no interior do continente, na costa ele foi até certo ponto eficaz, já que o litoral brasileiro atual é apenas um pouco maior do que o original.

Ainda no tocante ao litoral, os portugueses apesar de terem a posse “legítima” deste, garantida pela benção papal e os acordos com os espanhóis, tiveram que estabelecer determinadas políticas para tentar manter afastados os franceses, como as expedições guarda-costas e o início de uma colonização que culminou na criação das chamadas Capitanias Hereditárias. Com o estabelecimento dos Governos-Gerais inicia-se uma fase de conquista de diversos territórios ocupados por estrangeiros (em sua maioria franceses e quase sempre aliados aos indígenas locais): o Rio de Janeiro, a Paraíba, Sergipe e Rio Grande (do Norte) . Mais ao sul do continente, mais especificamente na foz do Prata, os portugueses desde cedo tentaram impor seu domínio, seja através da cartografia, seja com a demarcação efetiva . Não obstante, a posse ficou a cargo dos espanhóis pois estes incentivaram o povoamento e fundaram Buenos Aires para garantir seu domínio.

Com a União Ibérica (1580-1640), apesar dos respectivos domínios ultramarinos continuassem separados teoricamente, é certo que tanto espanhóis entravam sem grandes problemas em territórios portugueses, quanto os lusitanos entravam em terras espanholas se estabelecendo e com isso obtendo títulos de propriedade que seriam respeitados pela diplomacia posterior. Esta ótica da questão de fronteiras durante a União é inexata, já que continuou existindo uma rivalidade entre os dois povos, porém isso explica em parte esta expansão . Iam se estabelecendo, assim, algumas das futuras fronteiras terrestres do Brasil. Pela orla marítima os portugueses estenderam seus domínios da Baía de Paranaguá ao Rio Oiapoque (antes os extremos na no litoral eram Cananéia e Itamaracá). Também nesse período conquistou-se o muitas regiões do Nordeste e do Norte (da Paraíba ao Grão-Pará e quase toda a Amazônia) e do Sul (onde bandeiras de caça ao índio destruíram assentamentos jesuíticos espanhóis nos atuais oeste paranaense, no centro do Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, o que contribuiu para incorporar esses territórios ao atual Brasil).

Durante a União Ibérica, o Brasil continuou a ser alvo de estrangeiros como os franceses, porém os maiores inimigos foram os holandeses, que assim se tornaram justamente por serem ex-colônia dos espanhóis. Apesar da força com que invadiram e se estabeleceram no Brasil, principalmente na faixa litorânea que hoje vai do Espírito Santo ao Maranhão e de modo peculiar em Pernambuco, eles foram definitivamente expulsos em 1654 (14 anos após a Restauração de Portugal como reino independente). Após a restauração em 1640, a paz entre Portugal e Espanha foi firmada em 1668. Portugal, ainda não havia desistido de estender seus domínios até a foz do Prata e o rei ordena em 1678 a fundação de uma colônia naquela região para sustentar e afirmar seus direitos sobre a localidade. Após alguns atritos o soberano espanhol concede o inteiro domínio da margem setentrional do Prata e em 1715 no tratado de Utrecht, confirma que o rio da Prata era o limite ao sul do Brasil.

Ao norte, houve o estabelecimento de algumas colônias portuguesas no atual Amapá em 1639. A partir de 1679, iniciaram-se divergências com os franceses que estavam estabelecidos mais ao norte e tentavam transpor o Oiapoque, o que ocasionou durante dois séculos a assinatura de diversos tratados que tentavam estabelecer os limites que seriam somente resolvidos definitivamente no fim do século XIX para o início do século XX (o que será tratado mais adiante neste trabalho).

O resultado final desses tratados e de outros que viriam foi fruto da colonização portuguesa desde o século XVI até o XIX que ao penetrar o território, seja por motivos econômicos (mineração na região mais central – Minas, Mato Grosso e Goiás –, pecuária no sertão nordestino e no sul do Brasil e coleta de produtos da floresta, associado à facilidade de navegação da Bacia Amazônica ) ou religiosos (como é o caso das missões jesuítas, franciscanas e carmelitas que estiveram em diversas partes do Brasil), expandiu os domínios portugueses de norte a sul e pelo utipossidetis adquiriu terras que antes não lhes pertenciam.

A definição geral dos limites ocorreria em 1750 com o tratado de Madrid que deixava de lado a linha de Tordesilhas como base do direito de possessão e utilizava justamente o utipossidetis como princípio da posse e da definição de fronteiras. Neste tratado, Portugal cedia a Colônia do Sacramento e as suas pretensões ao estuário da Prata, e em contrapartida receberia os atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o atual Mato Grosso do Sul, a imensa zona compreendida entre o alto Paraguai, o Guaporé e o Madeira de um lado e o Tapajós e Tocantins do outro, regiões estas desabitadas e que não pertenceriam aos portugueses se não fossem as negociações do tratado . No tratado também ficaram estabelecidas as linhas divisórias das possessões portuguesas e espanholas. Com a demarcação efetiva dos limites, perceberam-se certas “imperfeições” que geravam conflitos locais nas regiões fronteiriças, e o Tratado do Pardo de 1761 foi assinado anulando o de Madrid, mostrando assim a hesitação dos dois governos, já que este ordenava a restauração dos territórios afetados ao status quo, até que outro tratado fosse estabelecido.

Por conta destas “indefinições” entre 1762 e 1777 são travadas diversas disputas em batalhas na Colônia do Sacramento, Rio Grande, Santa Catarina e Mato Grosso até ser assinado o tratado de Santo Ildefonso em 1777 que manteve a linha fronteiriça do Tratado de Madri e garantiu a Portugal a posse da área da ilha de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e à Espanha a Colônia de Sacramento e dos Sete Povos das Missões. Com estes tratados, o Brasil tomou uma configuração bem próxima da atual. Um episódio interessante e que também merece ser citado é o da conquista de Caiena em 1808, onde Portugal tomava posse da Guiana Francesa e se manteve assim até 1817, quando a devolveu após anos de negociação, já que os portugueses se recusaram em desocupar o território sem que se definisse previamente os limites definitivos.

Brasil Independente

Império

Uma das primeiras questões territoriais no Brasil Independente, fase imperial diz respeito à província Cisplatina, tendo em vista o grande interesse, desde o período colonial na região localizada à esquerda do Rio da Prata. Em 1824, entrando em Montevidéu o Tenente-General Carlos Frederico Lecor, o então Barão da Laguna, conseguiu que o cabildo (prefeito) da cidade jurasse a Constituição do Império, sendo, desta maneira, anexada oficialmente ao império a província Cisplatina. Esta ocupação foi breve, pois tendo seus interesses locais prejudicados, muitos cisplatinos apoiados pelas Províncias Unidas do Rio da Prata (que queriam também incorporar a Cisplatina), travaram batalhas e tentativas de prejudicar os brasileiros (como a prática do corso) para que cedessem, e estes por sua vez tentavam defender sua recente conquista. Entretanto, após diversos atritos, decidiu-se, em 1828, com uma certa intermediação dos ingleses, por uma Convenção Preliminar de Paz que foi ratificada nos anos seguintes que tratava do comum acordo de desistência das duas partes do controle da região e a criação da República Oriental do Uruguai. Em 1851 foi assinado o tratado de limites do Brasil com o Uruguai, quando os limites ficaram praticamente como são hoje, sendo modificadas posteriormente apenas algumas disposições do Tratado.

Com relação às fronteiras com o Paraguai, a fixação destes acontece após a guerra da Tríplice Aliança, quando em 1872 foi firmado um tratado de paz com o Paraguai, no qual também constavam os respectivos limites com o Brasil, e que segundo Hélio Vianna, respeitava os convênios da época colonial e reivindicava ao Brasil somente as terras já ocupadas ou exploradas por portugueses e brasileiros.

República

Na política exterior do estabelecimento de fronteiras e limites com os outros países da América do Sul, contribuiu muito a atuação de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Iniciaram-se como na maioria dos casos ainda no período do Brasil colonial, mas que foram concluídas somente quando o Brasil já se constituía uma República. É interessante notar que a maior parte dos acordos e tratados que vão definir as fronteiras do Brasil deriva do que já estava estabelecido pelos tratados de Madrid (1750) e Santo Ildefonso (1777). Nos casos que a fronteira instituída por estes dois relevantes acordos seria modificada, a alteração baseava-se quase sempre no princípio essencial destes tratados anteriores: o utipossidetis.

Limites com a Argentina

A questão da fronteira com a Argentina começou a ser negociada no segundo reinado. Como nenhuma das partes cedia aos interesses da outra, em 7 de setembro de 1889 foi assinado o tratado que, ratificado em 4 de novembro seguinte, no qual Brasil e Argentina concordavam em submeter sua contenda à decisão arbitral do Presidente dos Estados Unidos se dentro de 90 dias, contados da conclusão do reconhecimento e exploração dos rios litigiosos, os dois governos não tivessem chegado a um acordo amigável. Em seguida, a República foi proclamada no Brasil (15 de novembro do mesmo ano) e o ministro das relações exteriores, Quintino Bocaiúva, concordou na divisão do território contestado, inspirado num espírito de "fraternidade americana" , assinando o Tratado de Montevidéu em 1890 o que causou uma mobilização da opinião pública no Brasil e em 1891 o Congresso Nacional aprovou a rejeição ao tratado. Assim Argentina e Brasil concordaram em submeter novamente o litígio à decisão do presidente dos EUA, que em 1895 assinou o laudo arbitral que em sua maior parte favorecia o Brasil em suas reivindicações e finalmente em 1898 é assinado o tratado de limites, conferindo ao Brasil a posse de boa parte do oeste do que hoje é o Estado de Santa Catarina.

Limites com a Guiana Francesa

O litígio contra a França já estava decidido desde o Tratado de Utrecht em 1713, porém o governo Francês pretendia aumentar a área de seus domínios na América do Sul. Após diversas tentativas de acordo sem sucesso, já que nenhum dos lados pretendia ceder, em 1897 a República Francesa e a República dos Estados Unidos do Brasil firmaram um tratado encarregando o Conselho Federal Suíço de fixar arbitralmente as fronteiras. O Conselho definiu em 1900 que o já estabelecido Tratado de Utrecht era válido e suas determinações seriam obedecidas para o traçado da fronteira. Em sua maior parte, a região que foi confirmada como sendo de posse brasileira, faz parte do atual Estado do Amapá.

Limites com a Bolívia

O primeiro tratado de limites entre o Brasil e a Bolívia foi assinado em 1867, quando ainda não se conhecia corretamente a situação geográfica dos rios na Bacia Amazônica; tanto que um de seus artigos estabelecia a linha limite saindo do rio Madeira, por um paralelo, para oeste, até as nascentes do Javari - estabelecendo ainda que se essas nascentes estivessem ao norte do paralelo (o que de fato ocorreu), a linha deveria seguir "desde a mesma latitude", até aquela nascente. Em 1898, verificou-se que à vista do Tratado de 1867, a região do Acre pertencia à Bolívia, porém naquela região havia uma população considerável de origem brasileira. Isso causou diversos atritos, já que a população não queria se submeter ao governo boliviano, que por sinal tentou até mesmo arrendar o território a anglo-americanos. Diversas revoltas surgiram , e a situação de insubmissão se estendeu até 1903, quando o Brasil ocupou militarmente o território até que se decidisse definitivamente as questões. Conseguiu-se então pacificar o Acre, e através de uma multa paga aos arrendatários anglo-americanos, declarou-se a desistência dos arrendatários. No mesmo ano de 1903, reabriram-se as negociações propondo-se, por parte do Brasil um acordo sobre a base de uma permuta eqüitativa de território, já que era interesse do Brasil manter sob seu domínio uma população que era brasileira, apesar do território ser, de acordo com o Tratado de 1867, pertencente à Bolívia. Finalmente iniciaram-se as conversações e depois de uma série de propostas e contra-propostas, o Tratado de Petrópolis foi assinado, ficando acordado que mediante compensações territoriais em vários pontos da fronteira, a construção por conta do Brasil de uma estrada de ferro (a Madeira-Marmoré), a liberdade de trânsito pelo caminho de ferro e pelos fluviais até o Oceano Atlântico e mais uma indenização de dois milhões de Libras Esterlinas, a Bolívia cederia o Acre. Desta vez, segundo Rio Branco , estava acontecendo uma verdadeira expansão territorial (já que segundo ele os pleitos anteriores apenas haviam mantido o “patrimônio nacional”).

Limites com o Peru

Após um primeiro acordo em 1851, estabelecendo-se os limites e o início das demarcações, o pleito com o Peru inicia-se em 1863, e este passa a reivindicar uma área de 442.000 km² do Brasil, dos quais 191.000 km² foram entregues ao Brasil em 1903 pelo Tratado de Petrópolis. As negociações efetivas começam em 1904, criando as bases de um acordo definitivo e estabelecendo um tribunal no Rio de Janeiro para resolver questões entre Brasileiros e Peruanos das regiões fronteiriças. Sob arbitramento argentino, em 1909 ficou decidido que Peru não tinha direito ao Acre, e por conseguinte, os outros territórios ficaram fora de questão, já que ficavam além desta região. Dos 442.000 km² prendidos pelo Peru, somente 39.000 km² foram concedidos pela arbitrariedade argentina.

Limites com a Guiana Inglesa (atual Guiana)

Apesar o início da preocupação dos limites com a Guiana Inglesa vir já de longa data, o litígio durou, oficialmente, de 1838 a 1842 e as tentativas de entendimento direto, de 1843 a 1901, contudo sem sucesso. Em 1901 entregou-se a questão ao arbitramento do Rei da Itália, Vítor Manuel III, que determinou em 1904 que a região disputada pelos dois países seria dividida em duas partes, uma de 13.570 km² e 19.630 km², que respectivamente ficaram com o Brasil e com a Guiana Inglesa, o que foi considerada não um empate, mas uma derrota pelos brasileiros, que além de ficarem com a menor parte da área, obtiveram malogro em sua tentativa de impedir que a Inglaterra tivesse acesso à Bacia Amazônica.

Limites com a Guiana Holandesa (atual Suriname)

Com o Brasil nunca houve questões de limites, uma vez que os holandeses não excederam a linha divisória da bacia amazônica, onde jamais penetraram e que jamais pretenderam; ao contrário do que sucedeu com as Guianas Inglesa e Francesa. Com esses dois países vizinhos, os holandeses tiveram graves questões. Finalmente, a 5 de maio de 1906 , depois de resolvidos os problemas com os países vizinhos, os holandeses puderam assinar com o Brasil o tratado que fixa os limites pelo “divortium aquarum" separando as águas dos rios que deságuam no Oceano Atlântico das águas dos rios que são afluentes ou subafluentes amazônicos.

Limites com a Colômbia

A tentativa de acerto das fronteiras do Brasil com a Colômbia remonta à época do movimento emancipacionista e a fragmentação dos Vice-Reinados Espanhóis na América em 1821, quando constituiu-se a Grã-Colômbia, que compreendia a atual Venezuela, a Colômbia, o Equador e o Panamá. Em 1829 a Venezuela separou-se, exemplo seguido pelo Equador em 1830. As províncias restantes constituíram a República de Nova Granada, que em 1857 passou a denominar-se Confederação Granadina, esta em 1863 tomou o nome de Estados Unidos da Colômbia e finalmente, em 1886, de República da Colômbia. O Panamá teve sua independência em 1903. Após tentativas de acerto de nossas fronteiras em 1826, 1853, 1868/1870 e 1880/1882, em 1907 foi estabelecido em Bogotá um Tratado de Limites com suas cláusulas baseadas sobre o que Rio Branco definiu “a ocupação administrativa brasileira e a colombiana no desenvolvimento real que elas têm, com o caráter de exercício eficiente, continuado e completo de soberania” , assim a posse atual e os direitos delas decorrentes foram os critérios adotados para a definição dos limites. Uma vez reconhecida a Colômbia (em 1922) como único país confinante na região entre os rios Apapóris e Amazonas (regiões disputadas entre a Colômbia, Equador e Peru), foi acertada a fronteira nessa grande reta, pelo "Tratado de Limites e Navegação Fluvial" de 1928.

Limites com a Venezuela

A Venezuela, inicialmente fazendo parte da Grã-Colômbia (juntamente com Equador e Panamá), iniciou seu movimento de emancipação do Reino da Espanha em 1821 e em 1829 separou-se desta Confederação. Quando por ocasião da assinatura do Tratado de Limites e Navegação de 1859 com o Brasil, havia ainda pendência entre Venezuela e Colômbia sobre as terras a oeste do rio Negro (pendência só resolvida em 1891). Somente em 1880 as Comissões Mistas iniciaram a demarcação dessa fronteira, desde a nascente do Memachi até ao Cerro Cupi, terminando os trabalhos em 1882. De 1882 a 1884 a Comissão brasileira prosseguiu nos trabalhos de demarcação até ao Monte Roraima, sem a assistência da Comissão Venezuelana. Pelo laudo arbitral da Rainha Regente de Espanha (1891), o território compreendido entre a referida nascente do Memachi e o Rio Negro foi atribuído à Colômbia, que por sua vez respeitou os mesmos limites que aí anteriormente haviam se convencionado com a Venezuela.

Conclusão

Diversas questões de fronteiras, de menor projeção, e por isso omitidas, foram finalizadas durante o século XX após os eventos mencionados.

Através dos acontecimentos apresentados, percebe-se uma certa preocupação do Brasil com expansão do seu território ou no mínimo manter o já conquistado e que muitas vezes era pretendido por outros países sul-americanos. É interessante notar também a associação destas questões com a política de manutenção de unidade territorial cuja empresa foi iniciada ainda no período colonial mas que efetivamente mostrou-se como uma construção do Império Brasileiro.

É interessante notar como os outros países da América do Sul enxergavam a diplomacia brasileira empenhada em estabelecer fronteiras, fazendo sempre o possível para ganhar os pleitos favoravelmente à suas pretensões territoriais. Para esses países, principalmente para a Argentina, que no início da emancipação da América Espanhola tentou estabelecer uma unidade de uma grande parte dos territórios antes espanhóis com a criação das Províncias Unidas do Rio da Prata, o Brasil tinha atitudes que podiam ser comparadas às do Estados Unidos na América do Norte, que conquistaram rapidamente diversos territórios em sua política expansionista.

Esse “imperialismo brasileiro” inclusive é afirmado categoricamente como algo permanente nas políticas brasileiras citadas acima pelo argentino Vicente G. Queseda. Todas estas questões podem ser relacionadas sem muito esforço ao pensamento teorizado por Ratzel sobre a relação direta do tamanho do espaço ocupado pelo Estado Nacional com seu poder e influência.

 

Fonte: Wikipédia