GUERRA DO PARAGUAI

A Guerra do Paraguai foi o maior e mais sangrento conflito armado internacional ocorrido no continente americano. Estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. É também chamada Guerra da Tríplice Aliança. Brasil, Argentina e Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após cinco anos de lutas durante os quais o Brasil enviou mais de 160 mil homens à guerra. Algo em torno 50 mil não voltaram. Alguns autores asseveram que as mortes no caso do Brasil podem ter alcançado 60 mil se forem incluídos civis, principalmente na então Província do Rio Grande do Sul e na de Mato Grosso. As perdas humanas sofridas pelo Paraguai são calculadas em 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra e da fome. Os outros dois envolvidos no conflito, Argentina e Uruguai, sofreram perdas proporcionalmente pesadas — mais de 50% de suas tropas faleceram durante a guerra — apesar de, em números absolutos, serem menos significativas. O Paraguai, antes da guerra, atravessava uma fase marcada por grandes investimentos econômicos em áreas específicas. A derrota marcou uma reviravolta decisiva na história do país, desde então um dos menos desenvolvidos da América do Sul.

Antecedentes da Guerra

O Paraguai Antes da Guerra

Durante anos a historiografia considerou que nos governos de José Gaspar Rodríguez de Francia (18131840) e de Carlos Antonio López (18411862), o Paraguai teve um desenvolvimento bastante original em relação ao dos outros países sul-americanos. Essa tese afirmava que a política de Francia e de Carlos López foi sempre a de incentivar um desenvolvimento econômico auto-suficiente, graças ao isolamento imposto pelos países vizinhos. Nos últimos anos tal visão tem sido abandonada em virtude de investigações profundas de autores como Francisco Doratioto e Ricardo Salles.

O regime de Francisco Solano López caracterizava-se por um centralismo total sem qualquer espaço para o surgimento de uma verdadeira sociedade civil. Não havia distinção entre o público e o privado e a família López governava o país como se de uma grande propriedade se tratasse.

O governo controlava todo o comércio exterior. O mate, o fumo e as madeiras raras exportados mantinham a balança comercial com saldo. O Paraguai nunca fizera empréstimo no exterior e adotava uma política protecionista, isto é, de evitar a entrada de produtos estrangeiros, por meio de impostos elevados. Francisco Solano López, filho de Carlos Antonio López, substituiu o pai no governo em 1862, e deu prosseguimento à política de seus antecessores.

Mais de 200 técnicos estrangeiros, contratados pelo governo, trabalhavam na instalação do telégrafo e de estradas de ferro e na assistência às indústrias siderúrgicas, têxteis, de papel, tinta, construção naval e pólvora. A fundição de Ibicuí, instalada em 1850, fabricava canhões, morteiros e balas de todos os calibres. Nos estaleiros de Assunção, construíam-se navios de guerra.

O crescimento econômico exigia contatos com o mercado internacional, mas o Paraguai não tem litoral. Seus portos eram fluviais (de rios) e seus navios tinham que descer o rio Paraguai e depois o Paraná para chegar ao estuário do rio da Prata e, daí, ao oceano. O governo de Solano López elaborou um projeto para obter um porto no Atlântico. Pretendia criar o chamado Paraguai Maior, com a inclusão de uma faixa do território brasileiro que ligasse o Paraguai ao litoral.

Para sustentar suas intenções expansionistas, López começou a preparar-se militarmente. Incentivou a indústria de guerra, mobilizou grande quantidade de homens para o exército (o serviço militar obrigatório já existia no Paraguai), submetendo-os a treinamento militar intensivo, e construiu fortalezas na entrada do rio Paraguai.

No plano diplomático, procurou aliar-se, no Uruguai, ao partido dos blancos, que se encontrava no poder, adversário dos colorados, que eram aliados do Brasil e da Argentina.

A Política Platina

Desde que o Brasil e a Argentina se tornaram independentes, a luta entre os governos de Buenos Aires e do Rio de Janeiro pela hegemonia na bacia do Prata marcou profundamente as relações políticas e diplomáticas entre os países da região. O Brasil chegou a entrar em guerra com a Argentina duas vezes.

O governo de Buenos Aires pretendia reconstituir o território do antigo Vice-reinado do Rio da Prata, anexando o Paraguai e o Uruguai. Realizou diversas tentativas nesse sentido durante a primeira metade do século XIX, sem obter êxito, muitas vezes por causa da intervenção brasileira. Temendo o excessivo fortalecimento argentino, o Brasil favorecia o equilíbrio de poderes na região, ajudando o Paraguai e o Uruguai a conservarem sua soberania.

O Brasil, sob o domínio da família real portuguesa, foi o primeiro país a reconhecer a independência do Paraguai, em 1811. Na época em que a Argentina era governada por Juan Manuel Rosas (18291852), inimigo comum do Brasil e do Paraguai, o Brasil contribuiu para o melhoramento das fortificações e do exército paraguaios, enviando oficiais e técnicos a Assunção. Como não havia estradas ligando a província de Mato Grosso ao Rio de Janeiro, os navios brasileiros precisavam atravessar todo o território paraguaio, subindo o rio Paraguai, para chegar a Cuiabá. Muitas vezes, porém, era difícil obter do governo de Assunção permissão para lá navegar.

No Uruguai, o Brasil realizou três intervenções político-militares. A primeira, em 1851, contra Manuel Oribe, para combater a influência argentina. A segunda, em 1855, a pedido do governo uruguaio, presidido por Venâncio Flores, líder dos colorados, tradicionalmente apoiados pelo Império brasileiro. A terceira intervenção, contra Atanásio Aguirre em 1864, seria o estopim da guerra do Paraguai. Essas intervenções atendiam aos interesses ingleses de fragmentação da região do Prata. Impedindo, assim, qualquer tentativa de monopólio mineral.

A Intervenção Contra Aguirre

Em abril de 1864, o Brasil enviou ao Uruguai uma missão chefiada pelo conselheiro José Antônio Saraiva para exigir o pagamento dos prejuízos causados a fazendeiros gaúchos por fazendeiros uruguaios, em conflitos de fronteira. O presidente uruguaio, Atanásio Aguirre, do partido dos blancos, recusou-se a atender as exigências brasileiras.

Solano López ofereceu-se como mediador, mas não foi aceito. Rompeu então relações diplomáticas com o Brasil, em agosto de 1864, e divulgou um protesto afirmando que a ocupação do Uruguai por tropas do Império brasileiro seria um atentado ao equilíbrio dos Estados do Prata.

Em outubro do mesmo ano, as tropas brasileiras invadiram o Uruguai. Os partidários do colorado Venancio Flores, que contava também com o apoio da Argentina, uniram-se às tropas brasileiras para depor Aguirre.

A Guerra

Declaração de Guerra

Em represália à intervenção no Uruguai, no dia 11 de Novembro de 1864, Solano López ordenou que fosse apreendido o navio brasileiro Marquês de Olinda. No dia seguinte, o vapor paraguaio Tacuari apresou o navio brasileiro, que subia o rio Paraguai rumo à então Província de Mato Grosso, levando a bordo o coronel Frederico Carneiro de Campos, recém-nomeado presidente daquela província, que foi feito prisioneiro. Sem perda de tempo, as relações com o Brasil foram rompidas e já no mês de dezembro o Mato Grosso foi invadido. Em março de 1865 as tropas de Solano López penetraram em Corrientes (Argentina), visando o Rio Grande do Sul e o Uruguai, onde esperavam encontrar apoio dos blancos.

No dia 13 de Dezembro, o Paraguai declarou guerra ao Brasil. Três meses mais tarde, em 18 de Março de 1865, declarou guerra à Argentina. O Uruguai, já então governado por Venâncio Flores, solidarizou-se com o Brasil e a Argentina.

O Tratado da Tríplice Aliança

No dia 1°. de maio de 1865, o Brasil, a Argentina e o Uruguai assinaram, em Buenos Aires, o Tratado da Tríplice Aliança, contra o Paraguai.

As forças militares da Tríplice Aliança eram, no início da guerra, francamente inferiores às do Paraguai, que contava com mais de 60 mil homens bem treinados e uma esquadra de 23 vapores e cinco navios apropriados à navegação fluvial. Sua artilharia possuía cerca de 400 canhões.

As tropas reunidas do Brasil, da Argentina e do Uruguai, prontas a entrar em ação, não chegavam a 1/3 das paraguaias. A Argentina dispunha de aproximadamente 8 mil soldados e de uma esquadra de quatro vapores e uma goleta. O Uruguai entrou na guerra com menos de três mil homens e nenhuma unidade naval. Dos 18 mil soldados com que o Brasil podia contar, apenas 8 mil já se encontravam nas guarnições do sul. A vantagem dos brasileiros estava em sua marinha de guerra: 42 navios com 239 bocas de fogo e cerca de quatro mil homens bem treinados na tripulação. E grande parte da esquadra já se encontrava na bacia do Prata, onde havia atuado, sob o comando do Marquês de Tamandaré, na intervenção contra Aguirre.

Na verdade, o Brasil achava-se despreparado para entrar em uma guerra. Apesar de sua imensidão territorial e densidade populacional, o Brasil tinha um exército mal-organizado e muito pequeno. E, na verdade, tal situação era reflexo da organização escravista da sociedade, que, marginalizando a população livre não proprietária, dificultava a formação de um exército com senso de responsabilidade, disciplina e patriotismo. Além disso, o serviço militar era visto como um castigo sempre a ser evitado e o recrutamento era arbitrário e violento. As tropas utilizadas até então nas intervenções feitas no Prata eram constituídas basicamente pelos contingentes armados de chefes políticos gaúchos e por alguns efetivos da Guarda Nacional. Um reforço era, portanto, necessário. A infantaria brasileira que lutou na Guerra do Paraguai não era formada de soldados profissionais, mas pelos chamados Voluntários da Pátria, cidadãos que se apresentavam para lutar. Muitos eram escravos enviados por fazendeiros e negros alforriados. A cavalaria era formada pela Guarda Nacional do Rio Grande do Sul.

Segundo o Tratado da Tríplice Aliança, o comando supremo das tropas aliadas caberia a Bartolomeu Mitre, presidente da Argentina. E foi assim na primeira fase da guerra.

A Ofensiva Paraguaia

Durante a primeira fase da guerra (1864-1866) a iniciativa esteve com os paraguaios. Os exércitos de López definiram as três frentes de batalha iniciais invadindo Mato Grosso, em dezembro de 1864, e, nos primeiros meses de 1865, o Rio Grande do Sul e a província argentina de Corrientes. Atacando, quase ao mesmo tempo, no norte (Mato Grosso) e no sul (Rio Grande e Corrientes), os paraguaios estabeleceram dois teatros de operações.

A invasão de Mato Grosso foi feita ao mesmo tempo por dois corpos de tropas paraguaias. A província achava-se quase desguarnecida militarmente, e a superioridade numérica dos invasores permitiu-lhes realizar uma campanha rápida e bem-sucedida.

Um destacamento de cinco mil homens, transportados em dez navios e comandados pelo coronel Vicente Barros, subiu o rio Paraguai e atacou o forte de Nova Coimbra. A guarnição de 155 homens resistiu durante três dias, sob o comando do tenente-coronel Hermenegildo de Albuquerque Porto Carrero, depois barão do Forte de Coimbra. Quando as munições se esgotaram, os defensores abandonaram a fortaleza e se retiraram, rio acima, a bordo da canhoneira Anhambaí, em direção a Corumbá. Depois de ocupar o forte já vazio, os paraguaios avançaram rumo ao norte, tomando, em janeiro de 1865, as cidades de Albuquerque e de Corumbá.

A segunda coluna paraguaia, comandada pelo coronel Francisco Isidoro Resquin e integrada por quatro mil homens, penetrou, por terra, em uma região mais ao sul de Mato Grosso, e logo enviou um destacamento para atacar a colônia militar fronteiriça de Dourados. O cerco, dirigido pelo major Martín Urbieta; encontrou brava resistência por parte do tenente Antônio João Ribeiro, atual patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais, e de seus 16 companheiros, que morreram sem se render (29 de dezembro de 1864). Os invasores prosseguiram até Nioaque e Miranda, derrotando as tropas do coronel José Dias da Silva. Enviaram em seguida um destacamento até Coxim, tomada em abril de 1865.

As forças paraguaias, apesar das vitórias obtidas, não continuaram sua marcha até Cuiabá, a capital da província, onde o ataque inclusive era esperado (Augusto Leverger havia fortificado o acampamento de Melgaço para proteger Cuiabá). O principal objetivo da invasão de Mato Grosso foi distrair a atenção do governo brasileiro para o norte do Paraguai, quando a decisão da guerra se daria no sul (região mais próxima do estuário do Prata). Era o que se chama de uma manobra diversionista, destinada a iludir o inimigo.

A invasão de Corrientes e do Rio Grande do Sul foi a segunda etapa da ofensiva paraguaia. Para levar apoio aos blancos, no Uruguai, as forças paraguaias tinham que atravessar território argentino. Em março de 1865, López pediu ao governo argentino autorização para que o exército comandado pelo general Venceslau Robles, com cerca de 25 mil homens, atravessasse a província de Corrientes. O presidente Bartolomeu Mitre, aliado do Brasil na intervenção contra o Uruguai, negou-lhe a permissão.

No dia 18 de março de 1865, o Paraguai declarava guerra à Argentina. Uma esquadra paraguaia, descendo o rio Paraná, aprisionou navios argentinos no porto de Corrientes. Em seguida, as tropas do general Robles tomaram a cidade.

Ao invadir Corrientes, López pensava obter o apoio do poderoso caudilho argentino Justo José Urquiza, governador das províncias de Corrientes e Entre Ríos, chefe federalista hostil a Mitre e ao governo de Buenos Aires. No entanto, a atitude ambígua assumida por Urquiza manteve estacionadas as tropas paraguaias, que avançaram ainda cerca de 200 km em direção ao sul, mas terminaram por perder a ofensiva.

Em ação conjugada com as forças de Robles, uma tropa de dez mil homens sob as ordens do tenente-coronel Antônio de la Cruz Estigarriba cruzava a fronteira argentina ao sul de Encarnación, em maio de 1865, dirigindo-se para o Rio Grande do Sul. Atravessou-o no rio Uruguai na altura da vila de São Borja e a tomou em 12 de junho. Uruguaiana, mais ao sul, foi tomada em 5 de agosto sem apresentar qualquer resistência significativa ao avanço paraguaio.

A Primeira Reação Brasileira

A primeira reação brasileira foi enviar uma expedição para combater os invasores em Mato Grosso. A coluna de 2.780 homens comandados pelo coronel Manuel Pedro Drago saiu de Uberaba, em Minas Gerais, em abril de 1865, e só chegou a Coxim em dezembro do mesmo ano, após uma difícil marcha de mais de dois mil quilômetros através de quatro províncias do Império. Mas encontrou Coxim já abandonada pelo inimigo. O mesmo aconteceu em Miranda, onde chegou em setembro de 1866. Em janeiro de 1867, o coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando da coluna, reduzida a 1.680 homens, e decidiu invadir o território paraguaio, onde penetrou até Laguna, em abril. Esta expedição ficou famosa pela retirada forçada que empreendeu, perseguida pela cavalaria paraguaia.

Apesar dos esforços da coluna do coronel Camisão e da resistência organizada pelo presidente da província, que conseguiu libertar Corumbá em junho de 1867, a região invadida permaneceu sob o controle dos paraguaios. Só em abril de 1868 é que os invasores se retiraram, transferindo as tropas para o principal teatro de operações, no sul do Paraguai.

O Fim da Guerra

O Comando do Conde d'Eu

No terceiro período da guerra (1869-1870), o genro do imperador Dom Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, conde d'Eu, foi nomeado para dirigir a fase final das operações militares no Paraguai, pois buscava-se, além da derrota total do Paraguai, o fortalecimento do Império Brasileiro. O marido da princesa Isabel era um dos poucos membros da família imperial com experiência militar, já que na década de 1850 participara, como oficial subalterno, da campanha espanhola na Guerra do Marrocos. A indicação de um membro da família imperial pretendia diminuir as dificuldades operacionais das forças brasileiras, problema agravado pelos muitos anos de campanham, pela insatisfação dos veteranos e pelos conflitos, políticos e pessoais, que se alastravam entre os oficiais mais experientes. Em agosto de 1869, a Tríplice Aliança instalou em Assunção um governo provisório encabeçado pelo paraguaio Cirillo Antônio Rivarola.

Solano López organizou a resistência nas cordilheiras situadas a nordeste de Assunção. À frente de 21 mil homens, o conde d'Eu chefiou a campanha contra a resistência paraguaia, a chamada Campanha das Cordilheiras, que se prolongou por mais de um ano, desdobrando-se em vários focos. Os combates mais importantes foram os de Peribebuí, para onde López transferiu a capital, e de Campo Grande ou Nhugaçu (16 de Agosto), nos quais morreram mais de cinco mil paraguaios. Após a batalha de Peribuí, no dia 12 de Agosto, o Conde d'Eu parece ter-se exasperado com a obstinação paraguaia em continuar a luta, nada fazendo para evitar a degola de prisioneiros capturados durante e depois dos combates. Na batalha seguinte, Campo Grande, as forças brasileiras se defrontaram com um exército formado, em sua maioria, por crianças e idosos, criminosamente recrutados pelo ditador paraguaio. A derrota paraguaia encerrou o ciclo de batalhas da guerra. Os passos seguintes consistiram na mera caçada a López.

Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio, que se internara nas matas do norte do país acompanhado de 200 homens. No dia 1.° de março de 1870, as tropas do general José Antônio Corrêa da Câmara (1824-1893), o visconde de Pelotas, surpreenderam o último acampamento paraguaio em Cerro Corá, onde Solano López foi ferido a lança e depois baleado nas barrancas do arroio Aquidabanigui. Suas últimas palavras foram: "Morro com minha pátria". Assim chegou ao fim o mais sangrento conflito internacional das Américas, a guerra do Paraguai

Mortalidade

O Paraguai sofreu uma violenta redução de sua população, beirando os 70% de perda. A guerra acentuou um desequilíbrio pré-existente entre a quantidade de homens e mulheres. Autores da década de 1970 chegaram a defender que o desequilíbrio teria chegado a 28 mulheres para cada homem. Este número é certamente exagerado mas de qualquer maneira é provável que houvesse cerca de 2 mulheres para cada homem no Paraguai em 1870 no final da guerra.

Dos cerca de 123 mil brasileiros que combateram na Guerra do Paraguai as melhores estimativas apontam cerca de 50 mil óbitos e outros mil inválidos.

As forças uruguaias contaram com quase 5600 homens, dos quais pouco mais de 3100 morreram durante a guerra. Era formada em parte por estrangeiros.

Já a Argentina perdeu cerca de 18 mil combatentes dentre os quase 30 mil envolvidos.

Entretanto as altas taxas de mortalidade não são decorrentes do conflito armado em si. Doenças decorrentes da má alimentação e péssimas condições de higiene parecem ter sido a causa da maior parte das mortes. Dentre os brasileiros, acredita-se que até dois terços dos soldados tenham morrido em hospitais e durante a marcha, antes mesmo de terem enfrentado o inimigo. No início do conflito, a maior parte dos soldados brasileiros vinha das regiões norte e nordeste do país. As mudanças bruscas tanto de um clima quente para frio quanto de alimentação (no teatro de guerra a dieta tinha a carne fresca como base), além do consumo de água dos rios foi fatal, às vezes, para batalhões inteiros de brasileiros. A principal causa mortis durante a guerra parece ter sido o cólera.

Conseqüências da Guerra

Não houve um tratado de paz em conjunto. Embora a guerra tenha terminado em março de 1870, os acordos de paz não foram concluídos de imediato. As negociações foram obstadas pela recusa argentina em reconhecer a independência paraguaia.

O Brasil não aceitava as pretensões da Argentina sobre uma grande parte do Grande Chaco, região paraguaia rica em quebracho (produto usado na industrialização do couro). A questão de limites entre o Paraguai e a Argentina foi resolvida através de longa negociação entre as partes. A única região sobre a qual não se atingiu um consenso — a área entre o rio Verde e o braço principal do rio Pilcomayo — foi arbitrada pelo presidente estado-unidense Rutherford Birchard Hayes que a declarou paraguaia. O Brasil assinou um tratado de paz em separado com o Paraguai, em 9 de janeiro de 1872, obtendo a liberdade de navegação no rio Paraguai. Foram confirmadas as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra. Estipulou-se também uma dívida de guerra que foi intencionalmente subdimensionada por parte do governo imperial do Brasil mas que só foi efetivamente perdoada em 1943 por Getúlio Vargas, em resposta a uma iniciativa idêntica da Argentina.

O reconhecimento da independência do Paraguai pela Argentina só foi feito na Conferência de Buenos Aires, em 1876, quando a paz foi definitivamente estabelecida.

Em dezembro de 1975, quando os presidentes Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner assinaram em Assunção um Tratado de Amizade e Cooperação, o governo brasileiro devolveu ao Paraguai troféus da guerra.

As aldeias paraguaias destruídas pela guerra foram abandonadas e os camponeses sobreviventes migraram para os arredores de Assunção, dedicando-se à agricultura de subsistência na região central do país. As terras das outras regiões foram vendidas a estrangeiros, principalmente argentinos, e transformadas em latifúndios. A indústria entrou em decadência. O mercado paraguaio abriu-se para os produtos ingleses e o país viu-se forçado a contrair seu primeiro empréstimo no exterior: um milhão de libras da Inglaterra, que se pode considerar a potência mais beneficiada por esta guerra, pois além de exterminar a ameaça paraguaia na América do Sul como exemplo de desenvolvimento, conseguiu fazer com que o Brasil e a Argentina aumentassem suas dívidas externas, que se arrastam até hoje.

Depois da guerra, boa parte das melhores terras do Paraguai foi anexada pelos vencedores. O Brasil ficou com a região entre os rios Apa e Branco, aumentando para o sul o estado do Mato Grosso. A Argentina anexou o território das Missões e a área conhecida como Chaco Central (território argentino de Formosa) e tornou-se o mais forte dos países do Prata. Durante todo o tempo da campanha, as províncias de Entre Rios e Corrientes abasteceram as tropas brasileiras com gado, gêneros alimentícios e outros produtos.

O Brasil, que sustentou praticamente sozinho a guerra, pagou um preço alto pela vitória. A guerra foi financiada pelo Banco de Londres e pelas casas Baring Brothers e Rothschild. Durante os cinco anos de lutas, as despesas do Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma crise financeira. A escravidão passou a ser questionada, pois os escravos que lutaram pelo Brasil permaneceram escravos.

O Exército Brasileiro passou a ser uma força nova e expressiva dentro da vida nacional. Transformara-se numa instituição forte que, com a guerra, ganhara tradições e coesão interna e representaria um papel significativo no desenvolvimento posterior da história do país. Além disso, houve a formação de um inquietante espírito corporativista no exército.

 

Fonte: Wikipédia