TRÁFICO DE ESCRAVOS

A vinda dos escravos, segundo Waldeloir Rego em Mitos e Ritos Africanos da Bahia. Antes mesmo do descobrimento do Brasil os portugueses já traficavam escravos da África.

Não existe documentação precisa dessas diversas importações, a não ser vagas notícias de paradas de navios negreiros, nesse ou naquele porto do continente negro.

A informação mais precisa vem de Zurara, onde o autor da Crônica do Descobrimento e Conquista de Guiné faz um relato de como Antão Gonçalves, em 1441 capturou e trouxe para o Infante D. Henrique os primeiros escravos africanos, bem como a transação com Afonso Goterres, para aprisionar os negros do Rio do Ouro.

Isso foi o começo para que o espírito aventureiro de conquista do português criasse usura no continente africano, em busca de um comércio, não obstante desumano e humilhante, porém fácil e estritamente rendoso. A coisa cresceu tanto, que em pouco tempo já podia sentir Lisboa com um cheiro de cidade mulata, assim como mexer com a imaginação poética dos trovadores, Gil Vicente, Camões e, em especial, Garcia de Resende.

Mas, com o passar do tempo, longe de se pensar na extinção dessa atividade, ela toma um impulso vigoroso, agora com o forte aval da Igreja Católica, com a justificativa de que os portugueses fariam os povos ditos bárbaros adeptos de Cristo e, para tanto, mais papas e bulas houvessem. O papa Eugénio IV, pelas bulas Dudum cum, de 31 de julho de 1436, Rex Regnum, de 8 de setembro de 1436 e ainda a Preclaris tuis de 25 de maio de 1437, renovou a concessão ao D. Duarte de todas as terras que conquistasse na África, desde que o território não pertencesse a príncipe cristão. Não ficou somente aí o esdrúxulo privilégio.

Remexendo o bulário português, nos arquivos da Torre do Tombo, Calogeras encontrou várias outras, inclusive a mesma bela Rex Regnum, porém com outro destinatário, que foi D. Afonso V, com data de 3 de janeiro de 1443. No pontificado de Nicolau V, D. Afonso V, o infante D. Henrique e todos os reis de Portugal assim como seus sucessores passariam a donos de todas as conquistas feitas na África, com as ilhas nos mares a ela adjacentes, começando pelos cabos Bojador e Não, fazendo pouso na Guiné, com toda sua costa meridional, incorporando, a tudo isso, as regalias que o cérebro humano imaginasse tirar dessas terras e desses povos. Essa pequena bagatela de oferendas foi concedida pela bula Romanus Pontifex Regni Celestis Claviger, de 8 de janeiro de 1454.

Esses favores eram confirmados pelo papa que ascendia ao pontificado. E nessa matéria, o recorde foi batido pelo Papa Calixto III com a célebre bula Inter caetera que nobis divina disponente clementia incumbunt peragenda, de 13 de março de 1456, a qual, além de confirmar todas as dádivas anteriores, acrescentou a Índia e tudo mais que depois se adquirisse. E o melhor de tudo foi o arremate, de que «o descobrimento daquelas partes o não passam fazer senão os reis de Portugal»). A mesma orientação seguiu Sisto IV, com as bulas Clara devotionis, de 21 de agosto de 1471 e Aeterni Regis clementia per quam reges regnant, de 21 de julho de 1481, Inocêncio VIII valeu-se das bulas Ortodoxas fidei, de 18 de fevereiro de 1486 e Dudum cupiens de 17 de agosto de 1491.

Em meio a toda essa confusão da Santa Sé , deve-se fazer justiça a alguns papas, que protestaram contra semelhante estado de coisas, como Pio II com a bula de 7 de outubro de 1462, Paulo III em 1537, Urbano VIII com a bula de 22 de abril de 1639, Bento XIV em 1741, Pio VII em 1814 e finalmente Gregório XVI pela bula de 3 de dezembro de 1839, condena e proíbe a escravidão de negros.

Esse casamento estranho da coroa portuguesa e a Mitra permitiu que os portugueses agissem livremente, em nome de Cristo, Nosso Senhor e da sua santa fé, o que para tanto não fizeram cerimônia. Não é assim que, pouco tempo depois dessas concessões, descobrem a grande colônia da América do Sul. Era a princípio Terra de Santa Cruz, para depois passar a ser colonizada com o nome de Brasil.

Argumenta-se que a sobrevivência das primeiras engenhocas, o plantio de cana-de-açúcar, do algodão, do café e do fumo foram os elementos decisivos para que a metrópole enviasse para o Brasil os primeiros escravos africanos, vindos de diversas partes da África, trazendo consigo, seus hábitos, costumes, música, dança, culinária, língua, mitos, ritos e a religião, que se infiltrou no povo, formando, ao lado da religião católica, as duas maiores religiões do Brasil.

Fonte: Wikipédia